
Há pouco mais de um ano, quando ainda estávamos entendendo o caos mundial por conta do então desconhecido novo coronavírus (Covid-19), publicamos em nosso blog o artigo intitulado Covid-19: pós-pandemia pode ser chance de salvar o planeta.
Entre os muitos apontamentos feitos no texto, uma pergunta tinha peso especial: “Mas, afinal, que notícia acerca de questões ambientais seria tão importante em meio a um cenário em que milhares de vidas e empregos estão sendo perdidos dia após dia, desde o final do ano passado (leia-se 2019)?”.
E a resposta foi a queda global da emissão de gases poluentes (GEE) observada à época, e que resultou em uma visível melhora na camada de ozônio. Fenômeno, importante ressaltar, fruto da imposição da paralisação de grande parte das atividades econômicas realizadas no decorrer do mês de março de 2020, como tentativa de frear a disseminação em massa do vírus letal.
Além disso, o artigo chamava a atenção para a necessidade da adoção de processos mais sustentáveis por parte das indústrias finda a pandemia, tão logo fossem reiniciadas as atividades com, digamos, normalidade. “Isso sem falar no comportamento da comunidade como um todo, que precisa retomar seus hábitos de consumo e de mobilidade também de modo mais consciente”, dizia outro ponto.
Sabíamos, na ocasião, que o mundo vivenciava algo desconhecido e bastante grave. Mas não imaginávamos que a criticidade e os dissabores da pandemia se estenderiam por tanto tempo.
Muitos meses se passaram e a humanidade continua sendo triste e lamentavelmente assolada pelos danos oriundos da Covid-19. Entre eles a impossibilidade da retomada contínua de grande parte das operações produtivas e mercadológicas, o que vêm impactando negativamente incontáveis pessoas físicas e jurídicas.
Mas, diante de tantas tragédias, pelo menos um ponto pode ser considerado construtivo: o sonoro sinal de alerta ligado ao longo do último ano acerca da necessidade de mudanças extremas nos mais variados aspectos existenciais – e isso inclui o ambiente corporativo – parece estar, enfim, sendo ouvido.
Sustentabilidade nos negócios pós-pandemia
É difícil pensarmos em reflexos positivos diante do grave quadro pandêmico atual. Contudo, o aumento visível no número de pessoas e empresas que tomam ciência dos problemas ambientais e sociais do mundo precisa ser reconhecido.
Mudar a sociedade rumo a uma economia mais sustentável é algo bastante difícil. Um trabalho que há anos vem sendo feito com certa lentidão, principalmente dentro do mundo empresarial. Mas fato é que a pandemia potencializou as tendências ESG.
Para quem ainda não está por dentro do assunto, do inglês Environmental, Social and Corporate Governance – cuja tradução em português é Governança Ambiental, Social e Corporativa –, ESG refere-se a um conjunto de ações aplicado dentro da jornada das empresas, no que diz respeito às três temáticas que dão nome à sigla.
Usado como uma espécie de métrica para nortear boas práticas de negócios, o que inclui definir estratégias financeiras com base não apenas em lucro, o ESG é cada dia mais utilizado para guiar escolhas de consumo e investimentos focados em sustentabilidade.
Mas, afinal, você sabe o real significado de sustentabilidade? E qual a relação do termo com as práticas ESG nas empresas?
ESG x ambiente corporativo sustentável
Sustentabilidade é um conceito sistêmico que busca criar sinergias, diminuir atritos e garantir a continuidade dos aspectos ambientais, econômicos, sociais e culturais que norteiam a sociedade humana.
Assim, ao contrário do que muitos pensam, atitudes sustentáveis não se resumem tão somente àquelas que buscam respeitar a natureza e seus elementos como um todo. São condutas, como dito no parágrafo anterior, que têm quatro pontos como base: ser ecologicamente correto; ser economicamente viável; ser socialmente justo; e, por fim, ser culturalmente diverso.
E é justamente por esse conjunto de ações que os fatores ESG vêm sendo muito valorizados pelas empresas. Pois é em função das métricas geradas por eles que fica possível indicar o quanto determinado negócio caminha de mãos dadas com o desenvolvimento sustentável.
Ou seja, até que ponto investe em meios de minimizar impactos ambientais; desenvolve processos administrativos justos, claros e organizados; age com responsabilidade junto às pessoas que fazem parte do seu universo; e, de quebra, o quanto corrobora a favor de um mundo mais justo e igualitário.
Inegável é que os pilares ESG de sustentabilidade (ambiental, econômica e social) no cenário corporativo pressupõem um comportamento responsável que ganha cada dia mais aprovação aos olhos do público, investidores e demais atores da cadeia produtiva.
E os números estão aí para comprovar essa grande verdade, inclusive – e com destaque – no Brasil, como revela pesquisa intitulada “Respondendo às tendências do consumidor na nova realidade” (Responding to consumer trends in the new reality, em inglês), feita pela KPMG.
Tendência de consumo no Brasil pós-pandemia
Segundo o estudo recente, em comparação com consumidores de outros países, os consumidores brasileiros vêm dando mais relevância aos fatores ESG quando da decisão de compra em tempos de pandemia. Ou seja, empresas que adotam práticas ESG são hoje mais bem avaliadas no cenário nacional, se comparadas com o período anterior ao surgimento da Covid-19.
Dos 75 mil consumidores consultados na pesquisa, 25% apontaram que ao menos um fator relacionado com ESG é importante no ato da compra. E, em âmbito global, um em cada quatro consumidores considera pelo menos um fator ESG como relevante para a tomada de decisão. Isso em conjunto com preocupações concretas em relação a valor e segurança.
Sob o prisma da consciência ambiental adotada pela marca, por exemplo, esse aspecto foi indicado como relevante para 16% dos entrevistados. E os brasileiros se sobressaíram – e muito em comparação com outros países – ao apontar como crucial esse fator para a decisão de compra, em relação com antes da pandemia: China (+8%), Brasil (+5%), Itália (+4%), Canadá (-4%), Estados Unidos (-5%) e Japão (-11%).
E não podemos esquecer do mercado financeiro, que mais do que nunca passou a olhar para a agenda ESG das empresas com visão de risco para os negócios. Comportamento esse tido como ponto central para decisões voltadas à realização de investimentos, já que alocar recursos em empresas que estão alinhadas às práticas ESG tem sido mais que tendência. É maneira de aumentar as chances de obter melhores retornos.
Mas, o que explica essa “nova” postura coletiva mais responsável e preocupada em fazer cada vez mais da sustentabilidade uma exigência mundial?
Enfrentamento aos reflexos negativos
Não é novidade que nosso planeta há muito padece com os danos provocados pela humanidade e por todas as ações que dela derivam.
Entretanto, em virtude dos impactos globais sofridos com a pandemia e a teoria de que todo o imbróglio atual, em grande parte, é fruto de uma perigosa combinação de problemas ambientais, culturais e sociais, o movimento pró-sustentabilidade ganhou força e maior destaque pouco após o surgimento da Covid-19. Ou seja, a partir de 2020.
Por essa lógica, toda e qualquer atitude que favoreça o bem-estar da coletividade e do planeta passou a ser mais do que bem-vinda e merece, como vem acontecendo, ser valorizada ao máximo. E aí entram as práticas ESG no ambiente corporativo.
Muito além de oferecer excelentes perspectivas de crescimento e consolidação em longo prazo, o ESG é hoje um dos principais canais de contribuição para garantir um mundo melhor no futuro.
Então o que você está esperando para incorporar esses fatores de governança ambiental, social e corporativa em suas operações e garantir que esse movimento prevaleça e continue a render bons frutos no pós-pandemia?
Lembre-se: investidores e consumidores estão atentos e focados em apoiar quem entrou nessa onda sustentável e adota, com responsabilidade e assertividade, estratégias de sustentabilidade atreladas ao negócio!